UTOPIA: A INVENÇÃO AINDA NÃO CRIADA


Até que o francês François Viète (1540 - 1603) começasse a representar quantidades por letras nas equações, como a + b = c, a matemática européia era escrita com palavras. Imagine a confusão que seria fazer cálculos complicados se não fosse essa substituição.
Antes de 1610 todo seu humano que olhasse para céu à noite, jamais poderia imaginar que o italiano Galileu Galilei (1564 - 1642) um dia apontaria para o céu sua recém-inventada luneta e descobriria os quatro maiores satélites de Júpiter, marcando o início das pesquisas sobre o Universo. E hoje, homens moram fora da Terra em naves espaciais.
Martin Luther King, Jr. (1929-1968), acreditou que negros e brancos deveriam ter direitos iguais. Lutou e morreu por isso. Atualmente, os EUA é um país governado por um negro. Impossível crer nisso em 1930.
Steve Jobs acreditou que o mundo poderia se conectar através de uma rede mundial de computadores. E estamos diante de um.
O físico inglês Robert Hooke (1635 - 1702) publica os primeiros desenhos de células observadas ao microscópio, disparando as pesquisa sobre as unidades fundamentais da vida. Atualmente, os cientistas de diversos países se debruçam sobre os estudos das células tronco, sendo possível criar um tecido ou órgão do corpo humano a partir das células. Acaso pudesse ser dito a Robert Hooke que em 2012 isso ocorreria, o mesmo poderia desacreditar totalmente dessa informação e passar a acreditar que o informante era louco.
Poderia ficar a descrever tantas outras invenções e descobertas humanas. A máquina a vapor que inaugurou a Era Industrial da qual somos fruto. O fogo, a roda, tão insignificantes para nós hoje, mas uma descoberta tão grande para a humanidade até os dias atuais!
Esse é o mundo, o planeta Terra, em seus movimentos, em suas descobertas e suas histórias. Histórias de homens que pensaram. E por tanto pensarem, passaram a acreditar. E por terem acreditado, toda uma evolução veio a existir. Nossos carros, aviões, máquinas, computadores, hospitais, pernas e braços biônicos, são frutos de uma utopia, da imaginação.
Utopia significa “civilização ideal, imaginária, fantástica”. A palavra é de origem grega e significa “lugar que não existe”. O termo, no entanto, foi inventado por Thomas Morre em uma de suas obras, sobre um lugar onde existia uma sociedade perfeita.
Quem acreditaria nesses homens em suas épocas?
Peter Drucker, o criador da administração moderna, considerado um visionário, deu um alerta: “O fator chave para os negócios será a subpopulação dos países desenvolvidos – o Japão, os países europeus e os Estados Unidos. Isto quer dizer, seus cidadãos não estão produzindo bebês suficientes para se reproduzirem. Mesmo que os índices de natalidade crescessem da noite para o dia, seriam precisos 25 anos antes que esses novos bebês se tornassem adultos plenamente educados e produtivos. Em outras palavras, para os próximos 25 anos a subpopulação dos países desenvolvidos é um fato consumado (...) Não haverá uma única potência dominante mundial, porque nenhum país desenvolvido possui a base populacional para sustentar tal papel. Não pode haver nenhuma vantagem competitiva a longo prazo para qualquer país, indústria ou empresa, porque nem o dinheiro nem a tecnologia podem compensar, por qualquer período de tempo, os crescentes desequilíbrios em recursos de mão-de-obra. A única vantagem comparativa dos países desenvolvidos está no suprimento de trabalhadores do conhecimento”.
O mundo está chegando à uma época de sua história tão peculiar, tão distinta do que até então a história contou, que poderíamos dizer que o que se avizinha de nós pode ser comparado a um cataclismo. O significado do termo cataclismo é esse: “Alteração violenta, devida a quaisquer causas, ocorrida na superfície da Terra”. Willis Harman e Maya Porter, numa publicação da World Business Academy (1997), afirmam: “Nenhuma crise na história da humanidade civilizada se compara com o desafio de que todo o estilo de vida do mundo moderno não é sustentável num planeta finito a longo prazo”.
Um planeta finito. É isso que somos. Mesmo com toda a tecnologia e avanço. Somos perecíveis. E tão frágeis!
O mundo hoje está voltando os olhos para o Antigo Continente, a Europa. O berço de civilizações, como a romana, por exemplo, que convergiram para o que somos atualmente. Os líderes deste continente estão perplexos diante de uma grande crise econômica que não tem perspectiva de prazo para se encerrar. A maior economia do mundo, até bem pouco tempo atrás (EUA), está abalada. Pode-se dizer “há pouco tempo atrás”, porque a velocidade com que as coisas ocorrem, esta já é uma realidade presente ou quase presente.
O mundo já presenciou inúmeras crises, já suportou guerras e desastres e continua crescendo e progredindo. No entanto, a população mundial nunca foi tão numerosa. Nossos recursos naturais nunca foram tão escassos e ameaçados. Nossa educação na formação de pessoas nunca foi tão precária. Nunca tivemos tanto poder destrutivo quanto nos dias atuais (bombas, terrorismo, tráfico de entorpecentes ...). Nunca os povos e raças estiveram tão próximos uns dos outros, com suas ideologias e economias diferentes, provocando pensamentos e atitudes opostas.
Não é preciso raciocinar muito para entender onde esta explanação pretende chegar, bastando apenas se recordar dos últimos noticiários vistos.
O mundo possui uma população de quase 1 bilhão de miseráveis segundo uma estatística da ONU de 2007. Miséria não é somente falta de alimento. É falta de tudo. Do básico como é a alimentação e moradia, até a educação, segurança, paz, esperança, dignidade, fé, honra.
Engana-se quem pensa que miséria é somente a fome. Miséria é a desonra de uma mulher em uma sociedade opressora. É o desespero de um pai de família que teve seus filhos roubados pelo tráfico de humanos. É o abuso de crianças que são escravas sexuais desde os 5 anos de idade. É a dor das mães que perdem seus filhos para o tráfico de drogas. É a infância que nunca existiu na vida de crianças que são induzidas a carregar armas e a matar. Miséria é tudo aquilo que rouba a vida matando ou não o corpo.
A distância intransponível entre a riqueza e a miséria está diminuindo. E irá diminuir ainda mais. Se por um lado, como afirmou Peter Drucker, os países desenvolvidos irão (já estão) enfrentar o problema da “subpopulação”, por outro, os países pobres e em desenvolvimento irão (já estão) enfrentar o problema da “maxipopulação”, fazendo com que os líderes de todo o mundo tenham um problema a resolver muito maior do que manter suas economias em crescimento.
Existe uma dimensão humana, uma dimensão própria da humanidade que foi negligenciada durante séculos. É a dimensão ÉTICA, ESPIRITUAL E ECOLÓGICA. Se a humanidade se desenvolveu por um prisma, por outro, está tão atrasada quanto na idade da pedra. E se olharmos para o planeta como uma unidade, que de fato é, pode-se afirmar sem sombra de dúvida: não evoluímos.
Willis Harman e Maya Porter, afirmam que “oprimimos a nós mesmos com um sistema de crença que incorporamos, um sistema de crença sobre o qual repousa toda a nossa estrutura técnico-econômica, que não é compatível com um futuro viável para a sociedade humana no planeta”.
Não existe força de trabalho para um mundo baseado no conhecimento. A questão não é que não existirá. A questão é que já não existe! Para Peter Drucker “o conhecimento é diferente de todos os outros recursos. Ele torna-se constantemente obsoleto; assim, o conhecimento avançado de hoje é a ignorância de amanhã”.
Chegamos a um ponto da economia e desenvolvimento científico do qual não há retorno. Quando o mundo fala em “sustentabilidade”, deve- se ir muito além dos recursos naturais. Pensar em sustentabilidade de maneira eficaz e projetada para um futuro próximo e urgente, é pensar em sustentabilidade humana, no desenvolvimento da humanidade e não apenas de alguns países. E um desenvolvimento do conhecimento em países pobres e em desenvolvimento. A globalização globalizou tudo. Ricos e pobres, brancos e negros, cristãos e muçulmanos, ciência e miséria. Daqui em diante, essa miséria que foi citada acima afetará cada vez mais os “ricos”, os “desenvolvidos” e o próprio progresso da ciência. É necessário inventar a “Utopia”, aquele “lugar que não existe”, de Thomas Morre. É necessário que a imaginação e o poder de invenção do ser humano que já criou tantas coisas, crie uma conscientização mundial, nas organizações (escolas, empresas, igrejas, famílias), de que É POSSÍVEL! É possível uma cultura mundial que busque a riqueza do ser humano em todos os lugares. Isso criará uma economia mundial onde todos lucram. Só assim o planeta Terra será sustentável.
Se fomos capazes de chegarmos até aqui. Somos capazes de fazermos mais, por nós mesmos.
Raquel Michelline

Fontes:
A profissão de administrador - Peter Drucker - 1998 - Ed. Pioneira - São Paulo.
O novo negócio dos negócios - Willis Harman e Maya Porter (orgs.) - World Business Academy - 1997 - Ed. Cultrix

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