LIBERDADE


Uma pessoa que se considera livre, pode levar muito tempo para compreender o mínimo sobre a própria liberdade que julga ter – em alguns casos, nunca saberá. Ninguém conhece melhor o que seja liberdade do que aqueles que já estiveram presos. Seja a privação física, seja a privação de escolhas, ou a prisão da alma, dos sentimentos ou do espírito. 

Todo ser vivo deveria ser livre na acepção mais ampla do termo, a ponto do seu entendimento sobre liberdade ser tão grande que jamais permitisse escravizar o outro. 

Existem prisões e prisões neste mundo dirigido pelos homens. Desde aquelas mais simples e inocentes, até as mais tristes e cruéis. Falar das prisões condenadas pela maioria, como manter um inocente encarcerado, uma mulher trancada em casa, violar a liberdade do outro por maldade, torna fácil a compreensão da maioria, afinal é tudo tão claro como algo condenado pela sociedade. 

Todavia, falar sobre as prisões daqueles socialmente livres torna o assunto mais difícil e complexo. Os ‘socialmente livres’, muitas vezes, não possuem a mínima ideia da sua condição de prisioneiros. 

Na China, atualmente, existem dezenas e dezenas de pessoas que estão em prisões do governo simplesmente pela fé que possuem. Na Índia, mulheres são trancadas em suas próprias casas, pois vivem em uma cultura que permite alguém ser proprietário de outro ser semelhante a ele. Isso e tantos outros casos ocorrem neste momento em todo o mundo, até mesmo na sua vizinhança. O chinês preso ou a indiana enclausurada possuem a exata noção de sua situação. Situação esta vista pelo restante do mundo como absurda, como se todo o restante fosse ‘livre’. 

Não há prisão que seja boa ou aceitável. Não há prisão que não maltrate ou torture a alma. Não há prisão que não seja sentida pelo prisioneiro. Qualquer ser humano, em qualquer lugar, cultura, credo, sabe quando está prisioneiro. Mas existem algumas prisões que no início são confortáveis e até mesmo desejáveis. Estas aprisionam primeiramente a alma e o espírito. Quando estes já perderam a liberdade chega-se ao momento de começar a sentir-se mal, a perder o ar, as forças e rumo de volta. A maioria dos ‘socialmente livres’ são ou estão aprisionados desta forma. Aparentemente são livres, vão para onde querem e tomam as decisões que querem. Mas o ‘querer’ é formado por outras mentes e não pela sua própria, fruto de seu amadurecimento. Alguém, um sistema, uma cultura, formou a sua vontade. Esta não lhe é própria. 

Do mesmo modo que o chinês ou a indiana, a partir do momento que ocorre a conscientização da falta de liberdade, ocorre também o questionamento. Todavia, diferentemente daqueles, o ‘socialmente livre’ dificilmente saberá de imediato o que o aprisiona. O seu processo de libertação começa quando passa a se questionar e questionar a sua formação. Trata-se de um processo longo, demorado, suscetível às crises, e às recaídas – pois a prisão pode ainda ser mais confortável. É necessário coragem para enfrentar sua própria história, suas escolhas – pois muitas prisões são escolhas. 

Liberdade é o maior bem de alguém, mas é algo que requer coragem do seu conquistador. Coragem para questionar a própria história, as escolhas, o próprio caráter, a cultura em que foi criado, a política que o cerca ou a religião. Não existe liberdade mais valiosa que outra. Para o prisioneiro, a sua liberdade é a mais valiosa. No entanto, existe a mais poderosa: a da mente. Uma mente forte e livre pode vencer qualquer prisão. Há pesquisas que afirmam que os judeus que sobreviveram ao Holocausto, em sua maioria, foram aqueles que não deixaram a prisão entrar em si. Por isso a liberdade será sempre individual, subjetiva e nunca coletiva. Ela existe a partir do ser que a deseja, da sua história e valores, por isso, ela não pode ser imposta ou mesmo ser algo que tenha o mesmo valor para todos. 

A religião, a cultura, a política, os valores, não aprisionam aqueles que sabem como pensar e refletir diante das ‘verdades’ ditas, mas não vividas, não praticadas, não reais. Não se pode revoltar-se contra o ‘sistema’ enquanto não for possível compreendê-lo a partir de si mesmo. Nenhum movimento gay, feminista, católico, protestante, islâmico, separatista ou qualquer outro é capaz de ‘salvar’ ou ‘libertar’ (sendo no máximo, um instrumento para a reflexão). Quem assim pensa, será apenas transferido de uma prisão para outra sem ser capaz de se dar conta disso. Nenhum movimento, ideologia, pode levantar a bandeira do caminho ou da perfeição, pois assim estará trazendo prisão aos seus seguidores. Nenhum seguidor deveria seguir cegamente sua tribo, filosofia, fé, sem constantemente questionar a si mesmo, pois ... 
... a Liberdade é um bem RENOVÁVEL. 

Raquel Michelline

Comentários

  1. Oie Raquel,
    Vc poderia falar sobre:
    Da alteração do contrato de trabalho: aletração unilateral e bilateral; o jus variandi.

    Abçs
    Andrea

    ResponderExcluir
  2. Olá, Andrea, já anotei. Assim que possível será a próxima postagem.
    Obrigado pela sugestão.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas