GENTE - OS NOVOS SOLTEIROS

Nem precisa de muita pesquisa para chegar-se a conclusão de que, dentre as novidades do novo milênio que tem mudado a cara tradicional dos comportamentos, está o fato de que existem milhares de pessoas solteiras em todo o mundo e a tendência é o crescimento. 
Uma pesquisa de 2012 do Instituto Euromonitor Internacional revela que em todo o mundo existem 277 milhões de solteiros.  Nova York abriga mais de um milhão deles, um recorde mundial. Em Paris, metade das casas tem apenas um morador.
Já um levantamento feito pelo Serviço Nacional de Estatísticas na Inglaterra, revela que o número de solteiros cresceu, e muito, nas duas últimas décadas. Em relação aos anos 1990, o índice é 50% maior. De acordo com o estudo, pessoas entre 35 e 64 anos, são as que mais compõem esse quadro. E os homens também estão engrossando o número de solteiros. A pesquisa mostra ainda que muitos divorciados passam a morar sozinhos e acham muito difícil ou nem desejam um novo parceiro. O aumento no número de pessoas vivendo sozinhas coincide com a redução na quantidade de casamentos, sendo 79% em 1996 contra 69% em 2012. O estudo também mostra que o índice de pessoas que nunca se casaram ou se divorciaram passou de 16% para 28% no mesmo período. E essa grande quantidade de solteiros está provocando mudanças na maneira de viver e de consumir, incluindo o aumento da procura por casas no país. Atualmente há mais de 25 milhões de casas na Britânia, sendo que 29% desses lares são ocupados por apenas uma pessoa.

Depois dos dados estatísticos, e sem entrar em questões sociais-filosóficas sobre o tema, o objetivo aqui é trazer um olhar positivo para a solteirice. Aliás, “solteirice” é um termo ótimo, pois dá a ideia de estilo de vida, de escolha própria da maneira de se viver.

Historicamente, a união de casais sempre foi o objetivo da sociedade no que tange a estrutura básica privada da vida. E isso se dá e se deu por diversos motivos: geração de filhos, interesses econômicos, permanência da estrutura e do nome da família, e também, o próprio desenvolvimento da sociedade, cujo o enlace matrimonial era o suporte da estrutura social e do clã. Posteriormente, porém, bem mais recentemente, veio o Romantismo, em que a obrigação do casamento poderia (e por que, não?) vir acompanhada do amor. Mas a sociedade mudou. A estrutura social tomou novas bases, e o Romantismo foi surpreendido pelo fato inexorável (implacável) de que o amor pode acabar, e só ele não sabia disso.
Entretanto, as mudanças na sociedade que têm ocorrido tão rápido e fortemente nos últimos tempos, tem atingido a todos, independentemente, do estado civil. Aliás, é bom frisar, que o aumento do número solteiros faz parte dessas mudanças que estão nos levando, e muito em breve, chegaremos todos, à um novo tipo de sociedade, com transformações muito mais drásticas e rápidas que as da Revolução Industrial em seus primeiros estágios.
Mas algo muito interessante tem surgido dentro de tudo isso: convivemos atualmente com duas gerações ou duas formas de pensar a vida privada. A primeira delas é a visão tradicional da necessidade do casamento por seus mais diversos motivos. E a segunda, é a visão que está crescendo, a de que o casamento não é visto mais como uma necessidade, mas uma escolha pessoal, livre e consciente do eu de cada um. Nessa segunda visão da vida privada, casar-se ou permanecer casado, está ligado a uma escolha genuinamente pessoal e consciente, em que são avaliados uma série de fatores, mas principalmente, o fator de poder e querer viver sozinho


PODER: nem todos podem viver sós. Para tanto existem fatores emocionais e psicológicos; fatores financeiros-econômicos; fatores sociais; e até mesmo orgânicos, pois há aquelas pessoas que possuem uma necessidade quase visceral de estar com alguém o tempo todo e não consegue se imaginar só.
QUERER: o querer muitas vezes para se realizar depende do poder, pois há aqueles que embora querendo viver solteiros, não podem, por algum motivo, viver assim. Mas para aqueles que podem, o querer se resume basicamente na satisfação de viver sozinho, em se dar muito bem e à vontade consigo mesmo.
SOZINHO: essa é uma expressão que quase sempre vem acompanhada de preconceito, pois muitas vezes é confundida com solidão, estranhamento, incapacidade de se relacionar, e para os adeptos da primeira visão de vida privada, é associado a alguém que não teve sorte na vida. Mas para muitos, a solteirice do século XXI traz uma satisfação no estar sozinho. O solteiro do século XXI é uma pessoa conectada com o mundo, tem uma legião de informações sobre vida e sociedade que as gerações anteriores não possuíam, e em curto tempo de vida experimentou situações das mais diversas, e isso tudo dá a ele um conhecimento mais profundo de si e dos outros. Quando se tem satisfação em estar sozinho é porque vários outros elementos de vida privada já foram checados, a pessoa percebe-se em paz consigo mesmo, sabe que sua alegria não está condicionada a fatores externos, mas é capaz de encontrar satisfação em si, na sua filosofia de vida, conhece a si mesmo e gosta do que vê. Esse é o solteiro legítimo, aquele que escolheu ser solteiro. A solteirice escolhida tem um fator importantíssimo para o bem estar pessoal de qualquer pessoa: o auto-conhecimento. Além do que, um solteiro pode ter amigos, parentes, e um círculo de relacionamentos da mesma forma que qualquer casado.

Obviamente, que existem inúmeros fatores que agregam valor ao estado de solteiro, como fazer o que quiser, na hora que quiser e como quiser; não tem que dar satisfações; gastar o dinheiro no que interessa só a si; ter os amigos que escolher; ser dono do próprio nariz e do próprio corpo. Todavia, a maior satisfação em ser solteiro está, não na liberdade do fazer ou ter, mas principalmente, na liberdade do ser. Quando se é solteiro, você pode olhar para si mesmo e se não gostar muito do que vê, você pode mudar. Mudar sem ter que se explicar para o outro, e sem ter que esperar compreensão e engajamento da parte do outro.

Quando se é solteiro e gosta dessa situação, não existe forma de vida privada melhor. Mas aí pode surgir a pergunta: solteiro legítimo não quer casar???
Aí vem mais uma das maravilhas da solteirice, o fato de que o solteiro legítimo, é essencialmente livre. Não sofre pressões emocionais ou psicológicas para se casar ou permanecer solteiro. E quando decide-se por casar, o seu consorte (cônjuge, companheiro no meio jurídico) tem sorte mesmo, pois é amor de verdade! Mas não aquela paixão, que os neurocientistas chamam de demência temporária, e que dura cerca de 2 a 18 meses, num estágio de motivação, stress, obsessão e compulsão. É o amor racional, analisado e decidido. O legítimo solteiro, ao dizer sim, toma uma decisão.


A solteirice para ser maravilhosa, não pode existir por egoísmo ou status social, porque senão ela vira frustração. Mas deve ser uma escolha de vida consciente.

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